Sentido

Continuo assim, como se nada fosse pelas vésperas da minha própria existência. Quero acreditar que há algum sentido para toda esta sucessão de eventos, mas não encontro nada. Gente e objectos surgem à minha volta, por instinto interajo com eles. Puro instinto. Não o faço porque realmente quero mas sim porque o tenho de fazer. Digo isto porque não sei porque o faço. Se soubesse poderia escolher entre fazê-lo ou não. Faria porque assim quereria, não porque algo ou alguém me diz que o tenho de fazer. Vivo assim, à toa. Sem ter consciência do porquê de existir, sem ter sequer a esperança de que algum dia as minhas perguntas terão resposta. Vou vivendo. Nem sei porquê. Para quê. Estou constantemente atormentada por isto. Por este não saber, por esta ignorância que me consome. Todo este ciclo de vida sem sentido me entristece. É um círculo e quando desenhamos essa figura ela acaba por perder o fim e o princípio. Nascemos, comemos, fodemos e morremos. Mas deixamos a prole e tudo começa outra vez. E outra, e outra e outra. Sem fim, sem já se saber o começo. Mas também, porque quero encontrar sentido para esta confusão toda? Não me vale de mais regozijar-me por estar viva e bem? Será que há sentido em eu procurar um sentido? Dizem que os ignorantes são os mais felizes. Que quem sabe enlouquece ou então vive atormentado. E quem é ignorante e tem consciência que é? Não sofre mais por o ser e continuar assim? Quero relegar-me à minha condição de mero ser vivente. Não quero perguntar, nem ter vontade de o fazer. Mas então, porque é que o que me criou, me criou com capacidade para ter consciência da minha ignorância? Pergunto, pergunto. Muito pergunto eu. E continuo assim, neste estado. Talvez no final da vida, ou no começo da outra, descubra alguma resposta, algo que me ilumine, que me responda porque raio é que temos de fazer o que fazemos. Eu agora já penso uma coisa. Que é tudo por acaso, pura coincidência. O pior de não se ter resposta é dizerem-nos que nem sequer há nada para perguntar.